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Foto: https://acletrasms.org.br/portfolio-item/jose-pedro-frazao/

 

JOSÉ PEDRO FRAZÃO
( Mato Grosso do Sul – Brasil )

 

Nasceu em Belém (Pará), em 1955.
Reside em Anastácio (Mato Grosso do Sul).
Professor e jornalista, fundo em 1982 o jornal " O Porta-Voz", em Anastácio.  Foi secretário de Educação e Cultura de Anastácio.
Dentre suas obras destacam-se Nas Águas de Aquidauana eu andei (romance ecológico) e Tuiuiú My Brother.
Ocupa a cadeira no. 29 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, da qual é o atual vice- presidente ( em 2009).

 

 

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 15.
           Dezembro de 2008. Campo Grande, MS; 2008.  No. 10 412

 

Ingratidão

Andando calmo pela rua incauta,
Achei um incauto verso pelo chão;
Não tinha dono, pai, amigo, irmão,
Era só um pobre verso ali sem pauta.

Compadecido, enchi o verso triste...
De carinho, amor, sentido e oração,
Limpei as palavras do seu coração
E dei-lhe o melhor verbo que existe.

Depois de tudo, o verso deprimido,
Que alimentei de rima, amor e emoção,
Virou-se contra mim e, sem explicação,
Fugiu, deixando-me só, ali, perdido.




Foto: Tuiuiu: https://ismaeljsnature.blogspot.com/

 

Oração do Tuiuiú

Ave, Rei Tuiuiú cheio de graça!
Bonito és tu entre os animais
Viventes dos quentes pantanais,
E divino é o céu quando tu passas.

Santificadas sejam tuas asas,
Voa por nós mortais sonhadores,
Poetas, artistas e trovadores
Do Éden Pantaneiro, que é a tua casa.

Eleva a Deus-pai os nossos versos,
No teu voar manso, calmo, divinal...
Por todas as trilhas do universo
E trilhos do celeste Pantanal.

E dize ao Nosso Senhor em oração,
Que as aves sagradas pantaneiras
São mensageiros Anjos de Arribação
E a beleza da fauna brasileira.

 

Trovas de Natal

Famílias e povos se dividem,
Credos e seitas se conflitam,
Ateus e crentes se agridem,
Países e raças se agitam.
Dinheiro e igrejas se avultam,
Homens e bestas se devoram,
Pobres e ricos se consomem,
Crianças e velhos se apavoram.

Dias e noites vão passando,
E os anos o tempo consumindo,
Luzes e trevas se alternando
E a chama do amor diminuindo.

Enfim, é Natal, que alegria!
É a trégua da luta infinita,
É a Paz que nos traz a estrela-guia,
É um dia em que Deus nos visita.


Anjo de Pedra

Quando a primeira luz cruzou o meu caminho,
Um anjo de pedra zombou de mim e disse-me:
Vai, Pedro, andar pelo caminho das pedras
E ralar teus joelhos na montanha.
Vau tirar pedras dos caminhos
E extrair teu pão das pedras.
Caminha pelo meio do caminho
E nas pedras grava o teu caminhar.
Desvia-te das pedras presas
E das gentes presas te desvia.
Mas anda sempre no caminho das pedras,
Porque no meio das pedras do caminho
Haverá pedras de Dante e de Drummond
A desafiar eu imaginário.
E se atirarem pedras contra ti,
Junte-as com as pedras do caminho
E constrói com elas a tua montanha,
Pois é lá no topo que te esperarei
Para curar teus joelhos feridos
E andar contigo o resto do caminho
Iluminado por estrelas de pedras.


Onda Suja

Soberbo, o Rio Aquidauana
Perguntou à Ponte Velha:
— Como me vês, nobre dama,
De tua alta passarela?

Rija nos pilares, a Ponte
Ouve a voz do pobre nicho;
Espia abaixo, ergue a fronte
E diz: — Aqueronte! Lixo!

O rio, tristonho e ofendido,
Corre aos braços do mar,
Onde será bem acolhido
A qualquer hora que chegar.

E pra não chegar poluído
Vai rezando o rio e some
Pelas margens oprimido
E agredido pelo homem.


Mandala

Chegou partindo pro meu lado-inteiro
Feito um anjo sem que vendo-visse,
Murmurando coisas disse-que-não-disse,
Com um olhar-cego puro interesseiro.

Abraçou-me forte sem querer-carente
E naquele abraço solto-apertado
O meu corpo todo se soltou-colado
Na sua pele suave morna-fria-quente.

E um beijo-seco-úmido-molhado
Sugou-me a alma calma-agitada,
E sem saber sabendo que sabia nada
Coração parou batendo-apanhado.

Foi momento eterno que achei perdido
Na sua boca-porto do meu mar de brisa
Como um verso torto-certo-à deriva
Singrei vero-sonho pra rimar perigo.


O Colibri

O beija-flor que, há pouco, alegre flutuava
Feito auréola n´ua meiga rosa chamejante
Pelos raios matinais que a flor doiravam,
Débil, quedou sob a roseira, agonizante.

Fora o alvejado por uma pedra vil, mortal...
Que duma funda má partiu veloz, certeira,
Pra destruir no coração do Pantanal
O doce beijo do colibri na trepadeira.

Roxas de luto vertem lágrimas tristes flores,
Prantos de orvalho que no chão caem mansinho...
No frio silêncio onde se amargam as grandes dores
Que afligem o vento e as folhas mortas no caminho.

Como os amores que em meu peito deram em nada,
No esmaecer de tuas pupilas, passarinho,
Vejo morrer nos lábios os beijos de minha amada
Que sucumbiu ao amor de outro, sem carinho.

 

Poda

Os moradores daquelas ruas verdejantes
Retornavam para os filhos esfomeados,
Quando bombardeios mortais descontrolados
Destruíam as casas e seus frágeis habitantes.

A violência dos ataques e da ganância
Não poupa a vida de pequenos inocentes,
Vai massacrando, destruindo impunemente,
Sob a égide da ambição e da ignorância.

Como um forte tsunami devastando
Indefesos e inofensivos – coitadinhos!
Que a cidade alegram e enfeitam dos seus ninhos,
Os homens e suas máquinas vão matando...

Mas não é guerra, pois as vítimas não reagem,
Apenas quedam dos seus lares os passarinhos,
Coloridos, belos, adultos e filhotinhos,
Ante a insana poda de árvores e folhagens.
 

 

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 17.  Setembro de 2010. Campo Grande, MS; 2010.     

                                                            Ex. cedido por Rubenio Marcelo

 

Mandala

Chegou partindo pro lado-inteiro
Feito um anjo sem que vendo-visse,
Murmurando coisas disse-que-não-disse,
Com um olhar-cego puro-interesseiro.

Abraçou-me forte sem querer-carente
E naquele abraço solto-apertado
O meu corpo todo se soltou-colado
Na sua pele suave morna-fria-quente.

E um beijo seco-úmido-molhado
Sugou-me a alma calma-agitada,
E sem saber sabendo que sabia nada
Coração parou batendo-apanhado.

Foi momento eterno que achei perdido
Na sua boca-porto do meu mar de brisa
Como um verso torto-certo-à-deriva
Singrei vero-sonho para rimar perigo.


Virgem de Xaraés

Conta a lenda regional
Que tudo aqui foi um mar,
E hoje virou pantanal
Para o mundo contemplar.

É o Mar de Xaraés,
Dos peixes, dos jacarés,
Dos bichos, dos menestréis,
Que devemos preservar.

Paraíso pantaneiro,
Beleza pura tu és;
E Deus sendo brasileiro
Colocou-te aos nossos pés.
Junto à Santa que nos ama,
Conceição de Aquidauana,
Do pantanal grande Dama,
Rainha de Xaraés.

Viva ao rico santuário
Viva ao homem pantaneiro
Viva ao natural aquário,
Pantanal dos brasileiros..
Que o poeta do universo,
Deus, autor de todo verso,
Rimou com muito sucesso
No seu poema primeiro.

 

A Mentira

Filhote do Desdém e Covardia,
Cruel Irmã da Calúnia e da Maldade,
Nasceu a vil Mentira em triste dia
No catre da nociva Falsidade.

Discórdia era o prenome da parteira
Que na Dor abortara o vil rebento,
Sob o Medo que abafa a choradeira
Na vã masmorra podre de excremento.

Mesmo sendo da Infâmia algoz gerado,
O Embuste fiel engodo se proclama
A deter d´alva Fama a Boa Sorte...

Mas na Insídia a Verdade audaz se inflama
E prova sob a luz do véu Sagrado
Que a Mentira é o atalho para a Morte!
 

 

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 18.   Dezembro de 2010. Campo Grande, MS: 2010. 
Ex. cedido por Rubenio Marcelo

 

Pantaneiro

Bem cedo descobri que meu sangue é todo verde,
É todo lodo, é todo pântano...
E que o deus Pã me deu um coração de mato grosso
Para proteger o tuiuiú.
Por isso vivo entre o céu e a peúva,
Entre o rio e a chuva.
E se eu choro pela arara azul, pelo tucano...
É com pena dos ninhos tombados
E da floresta que se encolhe a cada ano.
Este é o meu canto que eu canto em todo canto
Onde canta a siriema...
E o que seria de mim se não fosse a ema
E se não sonhasse a garça no ninhal?
Sei mesmo que sou um Pã pernalta,
Sem flauta, de letras vãs,
Mas que morrerei jacaré, numa estrada qualquer,
Sem casaco e sem sapatos de pele,
Com a fauna e a flora esquecendo de mim.


Ingratidão

Andando calmo pela rua incauta,
Achei um incauto verso pelo chão;
Não tinha dono, pai, amigo, irmão,
Era só um pobre verso ali sem pauta,
Compadecido, enchi o verso triste...
De carinho, amor, sentido e oração;
Limpei as palavras do seu coração
E dei-lhe o melhor verbo que existe.
Depois de tudo, o verso deprimido,
Que alimentei de riam, amor e emoção,
Virou-se contra mim e, sem explicação,
Fugiu, deixando-me só, ali, perdido.

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 19.                   Dezembro de 2011. Campo Grande, MS; 2011. 
                                                                       Ex. cedido por Rubenio Marcelo

Pé na cova

O morto não morre de medo de morrer,
Nem quem dorme pode sentir medo da morte,
A vida e a morte embelezam o entardecer
Quando o sol morre e a lua nasce forte.

Pra que temer, se a morte é destino certo!?
Às vezes, um bem ou um susto passageiro;
Se luta é cansativa, ela está por perto,
Porque a morte é o descanso do guerreiro.

Há quem morre e ainda vive eternamente,
Ainda há quem vive morto toda a vida;
Depende de um bem-viver inteligente,
Ou de uma estúpida vida mal vivida...

Para provar que a morte é boa companheira,
Que não faz mal a quem com ela vai com sorte,
O dia e a noite nos ensinam, a vida inteira,
Que o sono é ensaio diário para a morte.

Ironicamente, perder sono é perder vida...
Quem mal dorme luta mal e morre cedo;
Viver contente torna a morte mais dormida,
Para que o sono eterno acorde o seu segredo.

 

Epitáfio

Aqui jaz o pó
Do homem que não foi poema,
Da ema que não põe
E do pão que voou.


Dia dos namorados


Fiz às pressas um poema de amor
Pra te dar de lembrança na estação,
Mas no caminho perdi palavras pelo chão,
E o trem partiu sem nosso adeus.

Voltei nos meus trilhos da paixão
Pra chorar de amor, poema frio,
Mas no caminho perdi lágrimas pelo chão,
E o meu coração também partiu.

E eu já me perdia pelo chão
Com os meus versos tristes, amassados,
Quando ouvi a tua voz no meu portão:
— Feliz dia dos namorados!

 

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 20.                   Dezembro de 2011. Campo Grande, MS; 2011. 
Ex. cedido por Rubenio Marcelo

A morte do poema

Fecundava na alma um poema
Adorável, sutil, de amor talvez,
Com versos e rimas tão supremas
Eloqüentes, de altíssima solidez.

Enfim, deu-se à luz fruto querido,
Como obra de divina perfeição,
Em estrofes de ouro concebido
E acolhido no berço-coração.

Foi noite de êxtase e alegria,
Paparicos, reis magos e presentes,
Músicas, musas, fantasias...
E lampejos de estrelas cadentes.

Mas, como a luz do sol-poente,
Que se apaga na abóboda vesperal,
Entristeceu o poema de repente
Inda no cálido afago maternal.

Seu rosto de risos ficou triste,
Seu corpo de febre se ardia,
Meu poema — meu filho — não resiste:
Meu rosto em meus olhos se esvaía.

Ao lado do seu leito entristecido,
Meu pranto assoalhou dor paternal,
Ao ver sucumbir o ente querido
Na alcova da inércia madrigal.

Meu raquítico poema, fraco, ao léu,
Nascituro, esquelético, despido,
Agonizara no canto do papel
Até o último sopro estremecido.

Minhas mãos se abraçaram em prantos
Meus olhos afundados, transbordaram;
Tentei reanimar seus versos brancos,
Mas as musas da palavra não deixaram.

Euterpe me abandonou naquele instante,
Em que parte de mim partiu pra sempre,
Jazido sobre a mesa, hirto, infante,
Entre lágrimas de velas refulgentes.

E do cadáver na lápide do escritório
Despedi-me indagando a Melpomene:
Por que naquele sinistro velório
A poesia abandonara o meu poema?

 


*

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Página ampliada e republicada em julho de 2022


 

 

 
 
 
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